No início do século XVIII, os primeiros artistas populares itinerantes do país recebiam o nome de Burlantim. Eles percorriam o Brasil em companhias mambembes, apresentando uma arte essencialmente de rua. Cia. Burlantins foi, portanto, a escolha do nome de um grupo de Belo Horizonte que nasceu do desejo de unir música e teatro em espetáculos na rua. Fundada em 1996 pelas atrizes e cantoras Marina Machado e Regina Souza, a companhia recebeu pouco depois de seu surgimento o reforço do ator, cantor, compositor e instrumentista, Maurício Tizumba. Mais que encenações com trilha sonora, a proposta do grupo era promover uma integração entre música, teatro e dança. O resultado foram espetáculos que fizeram da Cia. Burlantins um dos grupos mais respeitados no cenário artístico nacional.
Parte do reconhecimento deveu-se ao esforço do trio em somar talentos. Além de trazerem para as peças toda a bagagem adquirida em suas prolíficas carreiras solo, as parcerias firmadas a cada espetáculo garantiram obras diversas e de grande sucesso de público e crítica. O ator, diretor e gestor cultural integrante do Grupo Galpão, Chico Pelúcio, foi um dos grandes parceiros na trajetória da Cia. Burlantins. Foram dele a direção dos três primeiros espetáculos do grupo: "O Homem da Gravata Florida" (1997), "Opereta - o Homem que sabia Português" (1998) e "À Sombra do Sucesso" (2002)."O Homem que sabia Português" também contou com o compositor, pianista, arranjador, autor teatral e ator Tim Rescala, que assinou música e libreto da elogiada opereta. Em "À sombra do sucesso", Maurício Tizumba e Regina Souza tiveram como convidados os atores Jussara Fernandino, Amaury Vieira e Alexandre de Sena, além de bonecos de Álvaro Apocalypse, um dos fundadores da Giramundo.
Em comemoração aos 10 anos de trajetória da companhia, em 2007 foi realizada a Mostra Cia Burlantins, com novas apresentações do espetáculo "O Homem que sabia português" e com a montagem inédita, "Zeropéia – O Show". O espetáculo foi inspirado nas histórias "A Zeropéia", "A Centopéia que pensava" e "A Centopéia que sonhava", de Herbert de Souza, o Betinho. A primeira fase da montagem contou com a direção da produtora, atriz e cineasta Carla Camurati e, dando continuidade ao trabalho, a produtora e atriz Paula Manata, do grupo Armatrux, assumiu a direção. Na trilha sonora, outros grandes nomes: Vander Lee, Flávio Henrique, Chico Amaral, Affonsinho, Jonh Ulhoa e o próprio Tizumba.
Depois de quatro anos longe das ruas, a Cia. Burlantis retoma seus trabalhos, com Maurício Tizumba à sua frente. Em 2012, o grupo encena a peça "Oratório – A Saga de D. Quixote e Sancho Pança", inspirada na história do cavaleiro andante de Miguel de Cervantes.
"Faleis de mim tal como sou, realmente, sem exagero algum, mas sem malícia". As palavras são originalmente de Otelo, personagem-título de peça criada por William Shakespeare por volta do ano de 1603. No início do século XX, no entanto, se tornaram mais emblemáticas ao serem declamadas no cento de um picadeiro. Pois não há malícia ou exagero algum no aposto tantas vezes atribuído ao patrono da Cia. Burlantins, Benjamin de Oliveira – o Rei dos Palhaços.
Nascido em 1870 na cidade de Pará de Minas, filho de Malaquias e da escrava Leandra, o primeiro palhaço negro do Brasil é considerado o criador do circo-teatro brasileiro, que levava para as ruas paródias de operetas, contos de fadas teatralizados e grandes clássicos da literatura. Nos entreatos, cantava lundus, chulas e modinhas em companhia de seu violão.
Música e teatro na rua. Era isso que o palhaço oferecia ao respeitável público em meados de 1900. "O povo quer teatro na porta de casa. Teatro fixo poderá satisfazer uma parte, mas não todos. (...) é necessário que o pavilhão vá a todos os lugares, em toda a parte. Daí a nossa instabilidade", disse certa vez. E daí a vontade da Cia. Burlantins.